domingo, 6 de janeiro de 2013

VELHA HISTÓRIA



Depois de atravessar muitos caminhos 
Um homem chegou a uma estrada clara e extensa 
Cheia de calma e luz. 
O homem caminhou pela estrada afora 
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol 
Com o peito cheio de cantos e a boca farta de risos. 
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa 
Que se perdia na planície uniforme. 
Caminhou dias e dias… 
Os únicos pássaros voaram 
Só o sol ficava 
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida. 
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte 
Mas o sol tinha secado todas as fontes. 
Ele perscrutou o horizonte 
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas. 
Ele perscrutou o céu 
E não viu nenhuma nuvem. 

E o homem se lembrou dos outros caminhos. 
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes 
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro 
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono. 
Lá havia tempestade e havia bonança 
Havia sombra e havia luz. 

O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta 
Olhou longamente para dentro de si 
E voltou.

(Vinícius de Moraes)

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